Nenhum item esportivo é tão ligado à história da humanidade como o arco. O arco garantiu a sobrevivência de vários de nossos antepassados com um instrumento de caça eficaz quando o homem ainda habitava cavernas; definiu o rumo de batalhas sangrentas na Antiguidade e Idade Média; e esteve presente em uma das primeiras edições dos Jogos Olímpicos modernos, em 1900.
A ideia é bastante instintiva: tensionar um arco com uma corda para lançar uma flecha; essa é a essência do conjunto arco e flecha. Milhares de pessoas ao redor do mundo fazem uso desses equipamentos, seja como prática recreativa, esporte ou caça. E isso desde há muito tempo; não se sabe há quantos anos exatamente, mas não são menos que algumas dezenas de milhares de anos.
O tiro com arco é um desafio. Requer estabilidade, concentração, precisão, foco e perseverança. Nada mais natural que se torna-se um esporte, atualmente praticado em quase todos os países do globo. O tiro com arco nasceu como esporte entre a aristocracia do Reino Unido do século XVII. Em 1688 foram criados os clubes de tiro “Finsbury Archers” e o “Kilwinning Paping”. Nas competições, os arqueiros tinham que acertar um papagaio de madeira.
No final do século XVIII, o arco e flecha chegaram à nobreza inglesa com a fundação da Toxophilite Society, em Londres, que contava com o patrocínio do príncipe de Gales, George. Nessa época, o tiro com arco era usado também como exibição de status e paqueras, já que o esporte aceitava, desde o princípio, a participação de mulheres, mesmo num período em que elas eram vetadas da maioria dos esportes. “As mulheres jovens não só podiam competir nos concursos, mas manter e mostrar a sua sexualidade ao fazê-lo”, diz o artigo “History of Archery”, da Wikipédia, em inglês.
A partir de 1840, a arqueria começava a se tornar um esporte moderno, com a fundação da Grand National Society Archery, na cidade de Iorque, no Reino Unido. A sociedade padronizou a quantidade de tiro e distâncias no chamado Round Iorque – um antecessor do Round Fita – com distâncias de 60, 80 e 100 metros.
Em 1900 o tiro com arco teve sua primeira participação nas Olimpíadas, em Paris na França. Ele permaneceu nos Jogos Olímpicos até 1920 (exceto em 1912). Depois de um hiato por falta de padronização de competição nos países, o arco e flecha voltaram às competições olímpicas em 1972 e permanecem até hoje. Até 1984, havia apenas a competição individual; a partir de 1988 foi acrescentada a disputa por equipes.
Nos Estados Unidos, o tiro com arco nasceu como esporte em 1911, inicialmente com técnicas aprendidas a partir dos índios da tribo Ishi. Na Coreia, o país onde o tiro com arco é o esporte mais popular, a disseminação do esporte foi motivada pelo imperador Gonjog. E na China, houve um crescimento pelo interesse em arcos tradicionais nos anos 1900.
O esporte chegou ao Brasil por meio do comissário de voo Adolpho Porta, na década de 1950. Adolpho conheceu o arco e flecha em Portugal, onde morou. “Na Feira Popular, evento anual em Lisboa, o Sr. Adolpho conheceu um hábil marceneiro chamado Arlindo, que tinha um estande de tiro com arco. Notando o interesse do Sr. Adolpho pelo esporte, convidou-o para ser sócio do Glória Atlético Clube, onde praticava. Em 1955, quando seu baseamento terminou, Rodolpho Porta regressou ao Rio de Janeiro trazendo alvos, arcos e flechas fabricados por Arlindo”, registra a CBTARCO.
Desde 1980 o Brasil tem representantes nas Olimpíadas, com os seguintes atletas: 1980 Moscou (Renato Emilio e Arcy Kemner); 1984 Los Angeles (Renato Emilio e Arcy Kempner); 1988 Seoul ( Renato Emilio e Jorge Azevedo); 1992 Barcelona (Renato Emilio e Victor Krieger); 2008 Pequim (Gustavo Tranini); 2012 Londres (Daniel Xavier); em 2016 foram 8 brasileiros (Marcus Vinicius D'Almeida, Bernardo Oliveira, Gustavo Paulino dos Santos, Bruno Cobesa, Ane Marcele, Sarah Nikitin e Marina Gobbi). Na copa do mundo de 2022, entre os brasileiros, são quatro homens e quatro mulheres, todos participando do arco recurvo, que é a modalidade olímpica do tiro com arco. No masculino, competirão Marcus Vinicius D’Almeida, Bernardo Oliveira, Gustavo Paulino dos Santos e Bruno Cobesa. Já no feminino, Ana Machado, Ana Luiza Caetano, Ane Marcelle dos Santos e Mariana Canetta formarão o time verde e amarelo. No início de 2023 o atleta Marcus D’Almeida venceu a copa mundial e passou a ser o primeiro do ranking mundial.